sexta-feira, agosto 24, 2007

Quanto você ganha? (ou, pior, quanto você tira?)

Não, calma, não estou querendo ser indiscreta... :-)

Só quero fazer umas observações... Em inglês, o verbo é "earn" - "to earn a salary", por exemplo. "Earn" é o fazer por merecer, não o ganhar por ganhar. Uma pessoa conquista o seu respeito - em inglês fica "he earned my respect".

Penso que as nossas escolhas de palavras representam muito do que sentimos. Quando me perguntam "quanto dá pra 'tirar' por mês como tradutora?", fico com a impressão que, para aquela pessoa, traduzir é um bico, ou algo para "tirar" uma grana. Não "tiro" nada como tradutora, eu ganho. Na verdade, também não "ganho". Eu "conquisto"... porque ninguém me dá nada assim de graça, não...

É a mesma sensação que o "faço traduções" causa. Já cansei de ouvir: "você ainda está fazendo traduções?" - numa boa, apenas um pedido de informação. Dá uma idéia de algo provisório, não? Ninguém pergunta isso para um médico, advogado etc. O Dr. Fulano É médico. Ele não está "fazendo umas consultas". O Dr. Beltrano É advogado. Ele não está "fazendo umas petições, uns processinhos aí, sabe...".
Explica-se: para muitas pessoas, a tradução é só um quebra-galho, um momento na vida delas, entre um emprego e outro, talvez. Quando me perguntam isso, sempre respondo, com simpatia: "Sim, sou tradutora".

É mais um "estar" tradutor... Não que a gente não tenha direito a mudar de vida, eu sou exemplo disso - fui bancária por 7 anos, mudei, agora SOU tradutora. Pode ser que mude de novo, sei lá. Mas enquanto eu estiver numa atividade, é definitivo. Como já dizia Vinicius, que seja infinito enquanto dure...

Voltando à pergunta lá do título, outro dia me perguntaram isso. Não diretamente, foi mais na linha do "quando é que dá pra tirar por mês com tradução?".

A resposta é que não dá para saber. Cada um ganha o que consegue. Tradutor trabalha com tantos tipos de clientes, serviços, necessidades diferentes... Além disso, cada um é cada um, e o que pode ser uma fortuna para mim, pode ser apenas razoável para você. Depende do seu estilo de vida, do momento de vida (está construindo seu patrimônio, tem filhos em idade escolar, ou adolescentes, ou na faculdade, ou não tem filhos, mora com os pais, cuida dos pais, etc etc etc), se você mora num bairro bom, ótimo, mais ou menos, se faz questão de ter carro (indo desde o "se andar tá bom" até diversos graus de conforto e luxo), se mora em casa própria ou de aluguel, ou se está pagando as prestações do imóvel... até se o cônjuge tem salário fixo conta - e muito - no nosso perfil financeiro como tradutores.

Há de tudo - desde os tradutores que mal conseguem pagar as contas até os que vivem bem, sustentam família... e vários aí no meio.

Mais ou menos como ator. Ou vocês acham que todos os atores ganham a fábula que a Julia Roberts, o Brad Pitt, etc, ganham?

Mas, na minha muito humilde opinião, tudo começa com a postura profissional que adotamos. Quem fala muito disso é meu amigo Danilo Nogueira, que mantém um ótimo blog:
http://tradutor-profissional.blogspot.com/

Por hoje é só, volto ao trabalho para "tirar" mais uma graninha... :-)

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